Quando a respiração ativa o sistema de alarme: implicações clínicas e desportivas

A respiração disfuncional ativa o sistema de alarme interno, influenciando desempenho, recuperação e o equilíbrio do sistema nervoso. Descobre os mecanismos fisiológicos e as aplicações clínicas e desportivas deste fenómeno.

A respiração é o ponto de entrada mais direto para o sistema nervoso autónomo. Mesmo alterações subtis no padrão respiratório — que passam despercebidas ao olhar clínico tradicional — podem ativar o sistema interno de alarme do corpo.

Para profissionais de saúde e exercício, compreender esta relação é essencial: a forma como um cliente respira pode determinar o equilíbrio do seu sistema nervoso, influenciar a performance, controlar sintomas de ansiedade, modular dor e até afetar o risco de lesão.

O artigo desta semana aprofunda a fisiologia que explica por que razão o corpo entra em estado de alerta através da respiração, e como é possível reverter este padrão de forma simples, científica e aplicável na prática.


A fisiologia do perigo

Alterações na mecânica respiratória são suficientes para colocar o sistema nervoso em modo de ameaça.

Durante o stress, a amígdala envia sinais ao tronco cerebral, aumentando a ventilação e reduzindo o CO₂ arterial. Esta hipocapnia provoca:

  • desequilíbrio ácido-base;

  • vasoconstrição cerebral;

  • redução da oxigenação do córtex pré-frontal.

Estas mudanças comprometem atenção, tomada de decisão e controlo motor. Em contexto de treino, traduzem-se em fadiga precoce, perda de coordenação, maior risco de lesão e uma sensação subjetiva de “perda de controlo”.


O papel da respiração consciente na autorregulação

A respiração nasal e diafragmática aumenta os níveis de CO₂ e promove a libertação de óxido nítrico (NO), melhorando vasodilatação e oxigenação celular.

Do ponto de vista autonómico:

  • a expiração lenta ativa o nervo vago;

  • aumenta o tónus parassimpático;

  • restaura a homeostase do sistema nervoso.

Estas adaptações têm impacto direto em:

  • gestão de ansiedade;

  • regulação emocional;

  • otimização da recuperação;

  • melhoria da qualidade do sono.


Aplicação prática para treino e saúde

Antes do treino:

  • respiração nasal lenta para estabilizar o sistema nervoso e preparar foco e coordenação.

Durante o treino:

  • manutenção da respiração nasal sempre que possível para melhorar eficiência ventilatória e reduzir fadiga prematura.

Após o treino:

  • expiração prolongada e consciência diafragmática para induzir recuperação vagal.

Esta sequência simples modula o equilíbrio do sistema nervoso e melhora:

  • controlo emocional;

  • resistência;

  • qualidade de movimento.



A respiração é um modulador fisiológico do estado interno. Ao ajustá-la, o profissional não está apenas a intervir sobre ventilação — está a regular o sistema nervoso, a performance e a saúde emocional.


Na Sentir e Respirar, unimos ciência e prática para formar profissionais que utilizam a respiração como ferramenta terapêutica e para melhorar a performance.

Aprende a integrar o treino respiratório na tua prática e ajuda os teus clientes a regular corpo e mente de forma eficaz e baseada na ciência.




Marilyn Miranda







Fontes Científicas

  • Russo, M. A. et al. (2017). The physiological effects of slow breathing in the healthy human. Breathe.

  • Zaccaro, A. et al. (2018). How breath-control can change your life: A systematic review on psychophysiological correlates of slow breathing. Frontiers in Human Neuroscience.

  • Jerath, R. et al. (2015). Physiology of long pranayamic breathing. Medical Hypotheses.

  • Porges, S. W. (2011). The Polyvagal Theory.

  • Courtney, R. (2009). The functions of breathing and its dysfunctions. International Journal of Osteopathic Medicine.




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